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CAMEMBERT E OUTROS QUEIJOS FRANCESES PODEM ESTAR PERTO DA EXTINÇÃO

Se você é muito fã de queijos, pode começar a preparar a despedida de alguns. Os mais tradicionais queijos franceses — como o brie, o camembert e o queijo azul (feito de leite de cabra) — correm o risco de desaparecer por conta de uma crise na diversidade microbiana.

A informação foi dada em um comunicado do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS) na França, com base em pesquisas de investigadores da Universidade Paris-Saclay. O camembert, especificamente, estaria em vias de ser extinto, de acordo com o CNRS.

Vale lembrar que um possível fim dos queijos tem a ver não apenas com a extinção dos sabores que eles carregam, mas com aspectos importantes da identidade dos franceses. O camembert, por exemplo, é um queijo macio e cremoso que leva esse nome por ser de Camembert, na Normandia, no norte do país.

A queijeira Anne-Marie Cantin declarou à CNN que o camembert é um símbolo francês. “Qual é a imagem típica da França? Uma garrafa de vinho tinto, uma baguete e um camembert. É o nosso queijo nacional”, pontuou.

O problema está nas cepas presentes nos fungos. Ao longo da história, vários queijeiros usaram cepas do fungo Penicillium biforme para fazer o camembert. Cada cepa usada, por ser um pouco diferente, criava novos sabores específicos desse queijo.

Muito tempo depois, os profissionais passaram a usar apenas a Penicillium camemberti, uma cepa albina. “Acredita-se que seja um mutante branco selecionado da espécie cinza-verde Penicillium commune por sua cor no início do século XX”, lê-se em estudo da Universidade Paris-Saclay.

Acontece que ela foi se tornando tão popular que virou o “padrão ouro” para a criação do brie e camembert. Isso fez com que o camembert, principalmente, fosse ficando uniforme.

O problema da padronização dos fungos

(Fonte: GettyImages)
(Fonte: Getty Images)

Ocorre uma questão delicada: a Penicillium camemberti já não é capaz de se reproduzir a partir de outros fungos. Por conta disso, os queijeiros tiveram que “cloná-la”. Só que esse processo levou ao desenvolvimento de mutações no genoma da cepa e, por consequência, ela perdeu a capacidade de produzir esporos assexuados.

Em razão dessa ação humana, a indústria queijeira tem cada vez mais dificuldades de encontrar esporos do Penicillium camemberti. “A indústria alimentar exerceu tanta pressão sobre a seleção de fungos que a diversidade microbiana entre os queijos produzidos industrialmente tornou-se extremamente empobrecida”, afirmou o relatório do CNRS.

O risco se estende a outros queijos tradicionais, como o brie, o gorgonzola e o roquefort. Ainda assim, haveria uma chance de salvação: “Os produtores de queijo poderiam simplesmente inocular o leite de vaca com outros fungos P. biforme, que está intimamente relacionado com a cepa albina, embora possa dar aos queijos uma aparência e aroma ligeiramente diferentes”, escreveu Benji Jones, em artigo no portal Vox.

Apesar disso, Bruno Lefèvre, diretor-geral da associação de produtores de queijo Les fromageries de Normandie, declarou que há um exagero no temor dos queijeiros. “Nunca ouvi falar desta situação antes”, pontuou à CNN.

Fonte: Mega Curioso

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