O mundo da diplomacia foi sacudido ontem pelas notícias de que o governo Trump estaria articulando com interlocutores brasileiros o uso irrestrito do Aeroporto de Fernando de Noronha e da Base Aérea de Natal com o argumento de “direito histórico de retorno operacional” por conta dos investimentos feitos pelos EUA durante a 2ª Guerra Mundial.
Também ontem, o estilista potiguar George Azevedo estreou nas passarelas do Dragão Fashion Brasil com uma coleção que resgata justamente a história pouco conhecida dessa ocupação americana nos anos 1940. Devido a sua localização privilegiada, na ponta oriental do Brasil e onde o continente americano mais se aproxima da Europa e África, a então pacata Natal, com 30 mil habitantes, foi chacoalhada com a chegada de mais de 5 mil americanos para construir e atuar na Base Aérea de Parnamirim.
Em janeiro de 1943, Getúlio Vargas e Franklin D. Roosevelt se encontraram pessoalmente em Natal para consolidar os termos da cooperação militar, no evento que ficou conhecido como Conferência do Potengi. É esse universo efervescente que inspira a coleção “Grande Hotel”, hospedaria na Ribeira que era símbolo de sofisticação na época, onde se hospedavam autoridades militares e celebridades do cinema americano.
Longe de propor uma leitura tradicional do militarismo, o estilista brinca com uma fusão do camuflado tropicalizado às onças que são sua marca registrada e até mesmo estampas com pin-ups americanas, que adornavam o Cabaré de Maria Boa, um dos espaços mais frequentados por soldados e figuras influentes da época, inclusive utilizado como espaço informal para negociações diplomáticas.
A edição dos looks reflete esse caldeirão de referências: uniformes reinterpretados com cortes contemporâneos, em uma construção mais esportiva e utilitária, com bolsos diversos, capuzes e calças mais amplas, refletindo o estilo de vida boêmio e aventureiro da época. Essa mistura de elementos militares e retrôs com silhueta contemporânea resulta numa coleção que é ao mesmo tempo nostálgica e moderna.
