O potencial energético do Nordeste do Brasil e impactos da atividade em avanços socioeconômicos na região foram discutidos entre a Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), o Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e representantes da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos, na quinta-feira 9, em Natal. Pontos de convergência em áreas como tecnologia e educação voltadas à energia eólica, solar e hidrogênio renovável também estiveram entre os tópicos em pauta.
“Nós queremos conhecer o potencial do papel da região Nordestina na transição energética do Brasil. Queremos aprender mais sobre as oportunidades e os desafios da cooperação na área de energias renováveis aqui, tanto das empresas americanas quanto dos laboratórios, das entidades do governo americano, e, um terceiro ponto é: queremos entender como a transição energética no Nordeste pode ajudar as populações marginalizadas e os grupos minoritários da região”, disse o Adido de Energia e Recursos Naturais da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Joshua Marks.
Os Estados Unidos são o segundo maior produtor mundial de energia eólica em terra, em um ranking em que aparecem a China na primeira posição e o Brasil na 5ª – atrás da Alemanha e da Índia, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis, Irena.O país também se posiciona com a China e o Brasil no topo dos que mais contribuíram em 2021 – dado mais recente – para o crescimento da geração eólica, de forma global. Em relação ao offshore, é apontado entre os polos emergentes.
A reunião, no Hub de Inovação e Tecnologia (HIT) do SENAI-RN – complexo que reúne as principais referências do SENAI no Brasil em pesquisa aplicada, desenvolvimento, inovação e educação para energia eólica, solar e sustentabilidade – contou com a participação da assistente para Assuntos Políticos e Econômicos do Consulado Geral dos Estados Unidos no Recife (PE), Joana Cavalcanti, do presidente do Sistema FIERN, Amaro Sales, do diretor do SENAI-RN e do ISI-ER, Rodrigo Mello, do coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) do Instituto, Antonio Medeiros, e do pesquisador do ISI-ER, Leonardo Oliveira.
Prioridade
“O Brasil tem nas energias sua grande prioridade”, disse Amaro Sales, também presidente do Conselho Regional do SENAI-RN e da Comissão Temática de Energias Renováveis da FIERN (COERE).
Ao abrir o encontro, ele ressaltou a demanda mundial crescente por energias renováveis e pontuou que o SENAI do Rio Grande do Norte contribui há mais de 20 anos com o progresso nacional do setor no onshore (em terra) e também no offshore(no mar) – em projetos que tem possibilitado a descoberta de novas áreas de investimentos, o desenvolvimento de tecnologias, inovações e capacitação profissional para a indústria.
“Temos grandes players de energia aqui internados, ou seja, dentro da nossa estrutura, trabalhando conosco, e deixamos a porta aberta para continuarmos essa busca de relacionamentos, fazendo o elo entre as empresas que produzem, a Federação, o SENAI e o ISI”, frisou Sales.
O histórico de atuação do SENAI com foco nas indústrias de energia e do gás, as principais linhas de pesquisa e projetos foram detalhados pelo diretor, Rodrigo Mello, e pelo coordenador de P&D, Antonio Medeiros.
Eles também abordaram estratégias ESG da instituição (sigla em inglês para environmental, social andgovernance, que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização), incluindo a adesão ao Pacto Global da ONU e compromissos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – entre eles, a busca por mais igualdade de gênero em setores como o de energia, que está em franca expansão e tem a força de trabalho masculina como maioria.
Entre os projetos destacados pelo diretor do SENAI, nesse contexto, um terá largada oficial na semana que vem: A primeira especialização técnica para mulheres focada em manutenção e operação de parques eólicos, realizada em parceria com a AES Brasil, parte da AES Corporation -empresa global de energia com sede nos Estados Unidos.
A visão de desenvolvimento do Brasil para o hidrogênio verde e as estratégias no país para a capacitação profissional, especialmente no Nordeste – região que concentra, no país, o maior volume de investimentos e capacidade instalada em energia eólica – também foram discutidos na reunião.
Relacionamento
“Nós temos relação com o Brasil há mais de 200 anos. É uma longa e forte relação, que pode avançar ainda mais”, disse Marks, acrescentando que metas ambientais comuns entre os países, como zerar as emissões de carbono até 2050, além de esforços em direção à transição energética trazem oportunidades para que a parceria bilateral fique ainda mais forte.
“Eu diria que os Estados Unidos estão atentos a todas as regiões do Brasil e que o nosso olhar sobre o Nordeste não é algo novo. Nós temos presença em Recife e o Consulado está sempre observando o que está acontecendo na região. É de interesse dos Estados Unidos entender como a transição energética e esse crescimento da indústria de energia limpa no Nordeste vai se dar na região”, acrescentou o representante da Embaixada norte-americana.
Segundo o diretor do SENAI-RN, Rodrigo Mello, a instituição, que tem acordos de cooperação internacional com países europeus e empresas asiáticas, vê os Estados Unidos como parceiro muito estratégico. “O relacionamento que estamos iniciando com a Embaixada traz uma real oportunidade de colaboração, capaz de gerar bons frutos nas áreas de tecnologia, inovação e educação com foco na cadeia de energias renováveis”, disse ele, lembrando que o CTGAS-ER, um dos cinco centros de tecnologias e inovação do SENAI no estado, nasceu de uma cooperação com o Canadá.
“A nossa colaboração com o hemisfério Norte, aqui nas Américas, é algo, portanto, umbilical, mas no assunto energias renováveis precisamos fortalecer isso, dar vazão e velocidade nesse assunto. Os Estados Unidos têm muito a contribuir com o nosso caminhar e tenho convicção de que nós, enquanto Centro no ambiente tropical, e enquanto região, com um recurso eólico ímpar, temos muito a despertar no interesse deles”.
Potenciais parcerias com os norte-americanos se inserem no Plano de Internacionalização do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis, em vigor desde o ano passado.
“Estreitar relações com um país que é pujante e investe muito na área de tecnologia, e que é um dos pontos onde a produção de energia no offshore está iniciada, desperta do nosso lado o interesse em discussão, em aproximação, em colaboração, em troca de experiências dos nossos pesquisadores, no desenvolvimento conjunto de produtos e, por exemplo, de ofertar e apresentar coisas que foram desenvolvidas no ambiente tropical aqui pelo Centro”, complementa Mello.