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CLOTILDE TAVARES LANÇA NESTE DOMINGO (19) A SÉRIE DE PODCASTS “ROMANCEIRO VIVO”

Desde que o mundo é mundo, as boas histórias sempre dão um jeito de seguir adiante, levadas na memória dos bons narradores em seus floreios de cantos e rimas. O que explica, em parte, a surpreendente longevidade dos romances medievais cantados, narrativas orais que atravessaram mais de 700 anos e diferentes países chegando até o Nordeste brasileiro, onde mantém-se vivo na base do boca a boca. São histórias de guerreiros e santos da Idade Média, princesas e plebeus de tempos e lugares distantes que ainda encantam e instigam estudiosos.

Apaixonada pela cultura popular, a escritora, dramaturga e professora Clotilde Tavares “sofre” desse encantamento desde que se entende de gente. Cresceu ouvindo romances contados pelos seus familiares e durante sua vida acadêmica estudou esse tema. Agora, resolveu compartilhar seu conhecimento criando a série de podcasts “Romanceiro Vivo”, que estreia dia 19 de março, às 19h, em todas as plataformas digitais. A data é emblemática por ser dia de São José e aniversário da romanceira Dona Militana Salustino do Nascimento (1925-2010), considerada a maior guardiã da memória desses  romances medievais. Após o lançamento, os episódios serão disponibilizados às sexta-feiras, a partir das 10h.

Na série, Clotilde ela explica como, quando e onde surgiram essas narrativas disseminadas na Idade Média através da península Ibérica, sendo responsável por formar o caldo da cultura popular no Nordeste. “Esse caldo riquíssimo terminou por me definir, meu estudo, minhas criações e prazer. Passei a vida convivendo com pesquisadores e mestres que me orientaram e artistas que me  inspiraram”, disse.

“Romanceiro Vivo” terá 8 episódios de cerca de 20 minutos em média, apresentados de forma simples, divertida e acessível, como se a autora estivesse em uma sala de aula “conversando com meus alunos”. Os podcasts serão disponibilizados de forma gratuita, todas as sextas-feiras

Clotilde decidiu criar o conteúdo após muitos pedidos para que ministrasse um curso sobre esses saberes. “Sou apaixonada por esse tema e senti uma carência desse conteúdo de forma acessível. Nem todo mundo quer ler teses e dissertações, então quis trazer o conhecimento sobre esse tema tão importante, que é o Romanceiro e, de quebra, algumas informações sobre a Idade Média, época na qual nasceram os poemas”, comentou.

O Romanceiro popular é definido como o conjunto da literatura oral narrada em versos. Seu conteúdo varia de região para região, mas suas características principais são que as narrativas são em versos, cantados ou recitados, e de autoria anônima. O romance cantado é um dos seus aspectos, e é diferente da literatura de cordel e da cantoria de viola. Cada podcast é encerrado por um desses romances, cantado por Clotilde e acompanhado pela rabeca do multiartista potiguar Caio Padilha.

EPISÓDIOS

No primeiro episódio, Clotilde dá uma geral sobre o caminho percorrido pela poesia tradicional cantada que começa a se expandir na Idade Média, acompanhando a própria expansão da sociedade: “Os jograis e menestréis divertiam o povo com suas histórias e sua poesia, contavam fatos acontecidos ou inventados, histórias de santos, de guerreiros, de belas princesas e pajens atrevidos. Com o surgimento da imprensa, muitas dessas histórias foram impressas, mas outras ficaram apenas na transmissão oral, e para nosso espanto, chegaram até os dias de hoje.” 

Nos episódios seguintes ela define o que é romance e explica as diferenças entre os estilos da literatura popular, esclarecendo alguns equívocos cometidos por aí. Também acompanha as transformações históricas, o que explica que com o fim das cortes e dos menestréis essas narrativas se recolheram ao interior dos lares e se tornaram uma tradição feminina.

Também mostra como as mesmas histórias ganharam variações temáticas e linguísticas de acordo com os lugares onde “chegavam”. Ensina o que são versos de sete sílabas e os truques para entender uma redondilha maior. Nessa parte, canta o romance Gerineldo, sobre uma filha de um rei que, estando entediada, começa a seduzir um pajem. “Ao falar dos romances, tratamos da vida cotidiana popular, ali pelos séculos XI e XII”, pontua. Também aborda as teorias de origem do romance e ressalta o romance trágico de Santa Iria. 

A romanceira Dona Militana é apresentada no episódio 5, quando se aprofunda nas formas de transmitir, as funções, história a arte da comunicação poética e as muitas teses sobre a romanceira nascida em São Gonçalo do Amarante. O romance do “Conde Alberto” é explicado por Clotilde e depois cantado. A série traz também o romance de “Flor do Dia” e “Romance de dona Branca”, na voz de Militana, e o último episódio trata da condição feminina na Idade Média, o lugar da mulher e o amor. Aí entra o curioso romance “Donzela Guerreira”, que narra a história de uma paixão semelhante ao de Riobaldo e Diadorim em Grande Sertão: Veredas.

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