Do G1
O rei Charles III do Reino Unido foi coroado neste sábado (6) com a coroa de St. Edward, na Abadia de Westminster, em Londres. Cerimônia ocorreu quase oito meses após a morte da rainha Elizabeth II, a mais longeva da história britânica.
Aos 74 anos, Charles assume a função em um momento delicado, com a economia britânica pressionada pela inflação e com a família real envolvida em uma série de polêmicas.
Logo na abertura da cerimônia, Charles foi recebido na Abadia de Westminster por Samuel Strachan, um corista da Capela Real, que lhe dá as boas-vindas, como “filhos do reino de Deus” e em nome do “Rei dos reis”.
Sentado na Caidera do Estado, Charles realizou o Juramento de Coroação, comprometendo-se a defender a lei e a Igreja da Inglaterra, e o Juramento da Declaração de Adesão, declarando-se um “fiel protestante”.
No momento da coroação do rei Charles III, uma saudação de 62 tiros foi disparada na Torre de Londres, com uma salva de seis tiros no Horse Guards Parade. Outros 21 tiros foram disparados em 13 locais em todo o Reino Unido, incluindo Edimburgo, Cardiff e Belfast, e em navios da Marinha Real.
Ao fim da Procissão de Coroação, o rei e a rainha fizeram uma aparição na varanda do Palácio de Buckingham. Em seguida, a Força Aérea Real fez uma apresentação nos céus de Londres.
Camilla também é coroada
Casada com Charles, a rainha Camilla também foi coroada no evento. Ela deixa de ser chamada de “rainha consorte” e passa a ser nomeada apenas como “rainha”. A mudança, porém, é apenas uma questão de nomenclatura e não interfere nas funções ou no título oficial da esposa de Charles.
Oficialmente, Camilla é uma rainha consorte, que é o título dado à esposa do rei vigente. Em tese, uma rainha consorte tem a mesma posição social e o status do cônjuge. Historicamente, no entanto, não possui os mesmos poderes políticos.
A rainha é o título destinado a quem já nasce na família real e está na linha de sucessão.
A cerimônia
Essa é a primeira vez que uma cerimônia de coroação incluiu bispas, bem como hinos e orações cantadas em galês, gaélico escocês e gaélico irlandês, além de inglês. Esta também foi a estreia de representantes de outras religiões (que não os da Igreja da Inglaterra). Veja aqui fotos do cortejo e da coroação.
Durante o evento, foram apresentadas 12 novas composições, incluindo músicas de Judith Weir, Andrew Lloyd Webber e Patrick Doyle. Os artistas do serviço incluem a Orquestra da Coroação, o harpista real Alis Huws, o Coro da Abadia de Westminster e o Coro da Ascensão.
Uma nova Bíblia foi criada especialmente para a coroação. Com capa de pele de cabra tingida, com escrita em folha de ouro, o item foi aprovado pelo Arcebispo de Canterbury, que conduziu a cerimônia.
Três cópias idênticas foram feitas: uma será dada ao rei e as outras duas serão colocadas nos arquivos da Abadia de Westminster e da Universidade de Oxford.
Unção: a parte mais sagrada da cerimônia
A unção é considerada a etapa mais sagrada da cerimônia de coroação. O Arcebispo de Canterbury derramou um óleo e ungiu as mãos, peito e cabeça do rei Charles III.
O óleo utilizado na unção vem da Grécia, mais especificamente de dois olivais no Monte das Oliveiras, no Mosteiro de Maria Madalena e no Mosteiro da Ascensão.
O primeiro é o local do enterro da avó paterna do rei Charles III, a princesa Alice da Grécia. As azeitonas foram prensadas em Belém e perfumadas com gergelim, jasmim, canela, neroli, benjoim, âmbar e flor de laranjeira.
Uma nova tela foi utilizada para garantir a privacidade de Charles III. O tecido tem 2,6 metros de altura e 2,2 metros de largura e é sustentado com pilares de madeira que têm esculturas de águias no topo.
O design da tela foi inspirado em um vitral da Capela Real do Palácio de St. James, que foi presenteado à falecida rainha Elizabeth II para marcar seu Jubileu de Ouro em 2002.
A cerimônia também contou com uma cruz de prata que contêm, segundo o Vaticano, fragmentos da “Verdadeira Cruz”, que foi usada para crucificar Jesus Cristo.
Um dos pedaços doados tem 1 centímetro, e o outro, 5 milímetros. Esses dois pedaços de madeira foram moldados em uma gema de cristal que foi incorporada no centro de uma peça de prata.
Convidados para a coroação
Os principais integrantes da família real britânica estiveram presentes na coroação do rei Charles III e Camilla. O herdeiro do trono, príncipe William, e sua esposa, Kate Middleton, estavam presentes.
O príncipe Harry, segundo filho do rei, também foi ao evento. Sua esposa, Meghan Markle, e seus filhos, Archie e Lilibet, não compareceram à cerimônia.
A presença do casal era uma incógnita, pois eles se desvincularam dos deveres oficiais da realeza em 2020 e, desde então, estão no centro de diversas polêmicas envolvendo a família real.
Também compareceu o príncipe Andrew, irmão do rei Charles III. Andrew perdeu seu título honorífico da realeza em 2022, após ser processado por abusar sexualmente de uma menor de idade por meio de uma rede de tráfico sexual.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Janja, estiveram entre os convidados e representam o Brasil na celebração.
Outros chefes de Estado, como Emmanuel Macron, presidente da França, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também estiveram presentes.
Neste ano, cerca de 2,3 mil pessoas foram convidadas para a coroação, na Abadia de Westminster — bem abaixo dos 8 mil que assistiram à cerimônia da rainha Elizabeth II, em 1953.
Público assiste de fora
Ao longo da semana, dezenas de fãs da realeza acamparam no centro de Londres para reservar bons lugares para assistir ao cortejo após a coroação do rei Charles III. O público será convidado a se juntar a um “coro de milhões” para jurar lealdade ao rei e a seus herdeiros, segundo os organizadores disseram à BBC.
A coroação, cujas origens remontam a 1 mil anos atrás, é o maior evento cerimonial desde a ascenção da mãe de Charles ao trono, a rainha Elizabeth II, em 1953. O evento é sempre marcado por uma exibição de pompa e enorme procissão militar.
Para muitos britânicos, é um evento único na vida. Para outros tantos, é apenas um dia de folga, com um feriado extra na segunda-feira.
Uma pesquisa do “YouGov” no mês passado descobriu que apenas 33% dos entrevistados se importam com a cerimônia de coroação deste sábado. Outra pesquisa na semana passada mostra que 48% dos entrevistados provavelmente assistiriam ao evento pela televisão, enquanto 46% disseram o contrário.
Em 1953, milhões lotaram as ruas de Londres e cerca de 27 milhões de pessoas assistiram à cerimônia de coroação de Elizabeth II pela TV — à época, uma inovação ao ser a primeira transmissão ao vivo na história.
Organização do evento
Mais de 11 mil membros das Forças Armadas estiveram envolvidos na coroação de Charles III. Destes, mais de 4 mil participaram da procissão entre a Abadia de Westminster e o Palácio de Buckingham, segundo a agência Reuters.
Os integrantes das Forças Armadas britânicas que participaram dos cortejos foram acompanhados de soldados de mais de 30 países da Comunidade Britânia das Nações (Commonwealth), formando uma das maiores procissões militares do Reino Unido em décadas.
A polícia local informou que essa é uma das maiores e mais importantes operações na história.
A monarquia britânica recebeu reclamações sobre o custo da operação de segurança: houve relatos de que a organização custará US$ 125 mil (R$ 624 mil).
Segundo o Palácio de Buckingham, os valores não serão esses. No entanto, também não revelam qual o custo do evento. “Uma ocasião como esta, uma grande ocasião de Estado, atrai um enorme interesse global que mais do que compensa as despesas que a acompanham”, dizem.
Cerimônia mais “econômica”
O evento ocorre quase oito meses após a morte da rainha Elizabeth II, em setembro, e foi menos luxuoso que o de sua mãe, em 1953.
À época, a coroação de Elizabeth II foi a mais cara da história, com custo estimado em 1,57 milhão de libras, de acordo o jornal norte-americano “The New York Times”. Segundo a revista “Time”, esse valor é equivalente a 56 milhões de libras atualmente (algo como R$ 350 milhões).
Segundo a imprensa britânica, o Palácio de Buckingham optou por uma cerimônia mais comedida por conta da preocupação com a pauta ambiental, defendida há anos por Charles, e pela situação econômica do Reino Unido, que sofre pressão da inflação elevada e uma ameaça de recessão econômica.
Além disso, as mudanças na sociedade britânica, inclusive de como ela enxerga a monarquia, também parecem ter influenciado a decisão. Os custos da coroação são bancados pelos cofres públicos do país.
As festividades devem custar cerca de 100 milhões de libras (aproximadamente R$ 624 milhões) aos contribuintes britânicos, ainda de acordo com a revista “Time”.
Jovens são contra governo financiar coroação
O governo britânico realizou uma pesquisa de opinião sobre a coroação do rei Charles III, perguntando se a cerimônia deveria ou não ser financiada pelo governo, o que inclui o dinheiro vindo da arrecadação de impostos, por exemplo.
As respostas mostram um pouco do sentimento do britânico moderno, e um dos desafios do rei Charles III, de retomar a relevância da monarquia: 50% dos maiores de 18 anos disseram que a coroação não deveria ser financiada pelo governo. Outros 32% disseram que sim, enquanto 18% não souberam responder.
Na faixa etária entre 18 e 24 anos, 62% são contra a realização das cerimônias com dinheiro público. O percentual vai caindo de acordo com o avanço da idade:
- Entre 18 e 24 anos: 62% são contra
- Entre 25 e 49 anos: 55% são contra;
- Entre 50 e 64 anos: 46% são contra;
- Maiores de 65 anos: 44% são contra.
O caminho inverso vale para a parcela que considera que o contribuinte deve, sim, arcar com os custos da cerimônia. Entre os maiores de 65 anos, 43% são favoráveis ao uso do dinheiro público:
- Entre 18 e 24 anos: 15% são a favor;
- Entre 25 e 49 anos: 25% são a favor;
- Entre 50 e 64 anos: 39% são a favor;
- Maiores de 65 anos: 43% são a favor.
A comemoração continua
A celebração continua nos dias seguintes à coroação do rei Charles III:
Domingo (7): a noite contará com shows de diversos artistas. Entre eles estão Kary Perry, Lionel Richie e Andrea Bocelli.
Segunda-feira (8): o dia será feriado nacional. Na data, a família real incentiva os britânicos a realizarem atos de caridade e a partilharem refeições com a comunidade.
Fonte: G1